sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Blog

Este blog foi criado com o objetivo de abrir discussões a respeito do Jornalismo Opinativo na mídia impressa, tendo como princípio de análise os dois principais jornais de Mato Grosso do Sul (Correio do Estado e o Estado MS), e faz parte de um trabalho da disciplina de Gêneros Jornalísticos, do curso de Pós-graduação em Linguagem Jornalística, da Universidade Anhanguera Uniderp, de Mato Grosso do Sul. O blog foi formulado pelas alunas Juliana Belarmino (jornalista) e Elke Verbisck (publicitária), com base no primeiro capítulo do livro A Opinião no Jornalismo Brasileiro, de José Marques de Melo.

Através deste capítulo, entitulado de “Conceito e Categorias do Jornalismo”, nós identificamos um fenômeno e um problema que envolvem o Jornalismo Opinativo. Além disso, elaboramos 30 questões que expressam nossas dúvidas sobre o tema e também uma “questão básica” sobre a discussão. Ao final, escrevemos um artigo, que trata da nossa opinião com relação aos temas abordados nesse trabalho.
Nosso intuito é que este blog e estes debates não parem, afinal o direito de opinar é contínuo, com ele aperfeiçoamos nossos pensamentos. Por isso participe, comente e opine!

Conceito e Categorias do Jornalismo

Para que você entenda de onde veio a iniciativa desse trabalho e por que decidimos falar sobre Jornalismo Opinativo, fizemos um resumo do primeiro capítulo do livro A Opinião no Jornalismo Brasileiro - entitulado de “Conceito e Categorias do Jornalismo” -, do autor José Marques de Melo:

Este capítulo destaca a relevância dos estudos jornalísticos, sua trajetória histórica, as categorias jornalísticas e as perspectivas brasileiras com relação às modalidades do jornalismo.
O autor inicia o texto com uma afirmação dura sobre o desenvolvimento dos estudos na área jornalística.  Marques de Melo destaca que “Mais de um século de pesquisa sistemática não foi suficiente para permitir uma precisão conceitual sobre essa atividade da comunicação coletiva”. Para o autor, nem mesmo o avanço do conhecimento científico foi capaz de alcançar um rigor conceitual sobre o jornalismo. Sobre esse paradoxo, Marques de Melo declara que “o progresso da pesquisa mantém-se descompassado em relação às mutações vertiginosas do próprio campo”. De acordo com o autor, isso ocorre porque o jornalismo se nutre do circunstancial e, por isso, exige do cientista uma melhor instrumentação metodológica para lidar com essa natureza mutável dos conceitos e categorias jornalísticos.
Marques de Melo exemplifica que muitos estudos ocorreram apenas em torno do jornal, enquanto outros meios de comunicação - como o rádio e a televisão - se desenvolviam, ou seja, esses estudos não tiveram uma visão adequada de conjunto do fenômeno jornalístico, o que acabou gerando uma confusão entre o conceito de jornalismo e o de jornal.  Segundo Melo, “há uma confusão entre o jornalismo e os canais através de que essa atividade da comunicação coletiva se manifesta”. Por exemplo: é possível encontrar um jornal que contenha apenas matérias jornalísticas. Mas é possível também encontrar um jornal que só contenha propaganda e nenhuma matéria jornalística.
O autor afirma que a diferença entre o jornalismo e as outras atividades da comunicação, como a publicidade e as relações públicas, está no território da persuasão. “Enquanto a propaganda e as relações públicas processam mensagens que pretendem persuadir e levar os cidadãos à ação, adentrando muitas vezes no espaço do imaginário e apelando para o inconsciente, o jornalismo atém-se ao real, exercendo um papel da orientação racional”. O autor concorda com o estudioso Otto Groth no fato de que o processo jornalístico tem suas próprias peculiaridades, variando de acordo com a estrutura sócio-cultural em que se localiza, com a disponibilidade de canais de difusão coletiva e com a natureza do ambiente político e econômico que rege a vida da coletividade.
Trajetória Histórica - Sobre a trajetória histórica do jornalismo, Marques de Melo ressalta a influência da censura prévia, que gerava a falta de periodicidade nas publicações impressas. Assim, o autêntico jornalismo – processos regulares, contínuos e livres de informação sobre a atualidade e de opinião sobre a conjuntura – só emerge com a ascensão da burguesia ao poder e a abolição da censura prévia.
O fim da censura prévia fez com que o jornalismo se assumisse como uma atividade comprometida com o exercício do poder político, difundindo idéias e defendendo pontos de vista. Com isso, o jornalismo caracterizou-se pela expressão de opiniões. No entanto, os donos de poder, incomodados com as denúncias, procuraram reduzir o ímpeto da expressão opinativa. Essa decretação de limites à liberdade de imprensa ficou conhecida como censura a posteriori, ou seja, a punição dos excessos cometidos. Essas restrições fizeram medrar o jornalismo de opinião e estimularam o jornalismo de informação. Marques de Melo ressalta que “o equilíbrio entre ambas as categorias (news e comments) ou a predominância de uma sobre a outra permanece como uma peculiaridade de cada processo jornalístico”.
Categorias Jornalísticas - O autor inicia a terceira parte deste capítulo com uma discussão sobre a natureza das duas categorias jornalísticas (informativa e opinativa): “Até que ponto o jornalismo informativo limita-se a informar e até que ponto o jornalismo opinativo circunscreve-se ao âmbito da opinião”?
Para Marques de Melo, a distinção entre as duas categorias corresponde a um artifício profissional e também político. O profissional corresponde ao limite em que o jornalista se move, ou seja, entre o dever de informar e o poder de opinar, e político porque, muitas vezes, ele desvia a vigilância do público em relação às matérias que aparecem como informativas, mas que na prática possuem vieses ou conotações. De acordo com Marques de Melo, essas duas categorias do jornalismo convivem com categorias novas que correspondem às mutações experimentadas pelos processos jornalísticos, uma vez que o jornalismo torna-se cada dia mais um negócio e suas formas de expressão buscam adequar-se aos desejos dos consumidores.
Um exemplo dado pelo autor é dos estudos de Fraser Bond, que afirma que o jornalismo tem quatro funções: informar, interpretar, orientar e entreter. Além de assegurar a informação, interpretar e moldar opiniões, o jornalismo dedica-se também à sua função de entreter, ou seja, comentar os aspectos pitorescos da vida cotidiana, já que o público busca também a distração. Para Marques de Melo, as duas funções que o jornalismo interpretativo e o jornalismo diversional preenchem podem corresponder em certo sentido a expressões já existentes no jornalismo informativo e no opinativo. Por exemplo, ao conduzir julgamentos, o jornalismo opinativo está também explicando, educando. Assim, a existência de todas essas categorias jornalísticas não é ponto de consenso entre os estudiosos. Alguns aceitam todas as categorias, mas outros recusam algumas delas.
Perspectivas Brasileiras – Marques de Melo destaca que o jornalismo diversional é uma categoria não legitimada nos círculos acadêmicos brasileiros. Segundo ele, alguns pesquisadores erram quando entendem que o jornalismo diversional é o conjunto dos divertimentos encontrados nas páginas dos jornais, como as charadas e as palavras cruzadas. “São mensagens desvinculadas do real, mais próximas do universo imaginário e, portanto, classificadas dentro do campo do lazer”, diz. Para Marques de Melo, o jornalismo diversional é aquele que engloba textos que, fincados no real, procuram dar uma aparência romanesca aos fatos e personagens captados pelo repórter.
Essa compreensão do autor coincide com o “novo jornalismo” norte-americano, em que os fatos reais são intercalados de diálogos, revelando até conjecturas dos personagens envolvidos na narrativa. “O interesse do leitor por essas produções jornalísticas está menos na informação em si, ou seja, na essência do fato narrado, do que nos ingredientes de estilo a que recorrem os seus redatores, despertando o prazer estético, em suma, divertindo, entretendo, agradando”, finaliza.

Fenômeno e Problema

Em torno dos assuntos elencados nesse primeiro capítulo do livro A Opinião no Jornalismo Brasileiro, nós – Elke Verbisck e Juliana Belarmino -, definimos um fenômeno e um problema que permeiam as atividades jornalísticas e que farão parte das discussões deste blog:
Fenômeno: O Jornalismo Opinativo, de que tanto trata o nosso autor Marques de Melo, é bastante acessível na mídia impressa, principalmente quando falamos do editorial e do artigo, gêneros que fazem parte dessa categoria jornalística. O objetivo desse tipo de jornalismo, conforme explicitado no livro de Marques de Melo, é emitir opiniões, idéias, juízos críticos acerca de um fato, com a real intenção de influenciar seu público.
No caso do editorial, a expressão particular da empresa jornalística em torno de determinados fatos, que podem também estar diretamente relacionados a interesses do veículo, é o que se faz presente. Já o artigo é a expressão de opiniões escritas não apenas por jornalistas, mas também por outros profissionais, como advogados, engenheiros, professores, ou qualquer outra pessoa que queira dar sua opinião a respeito de um tema e publicá-lo na mídia.
Sendo assim, verificamos que o Jornalismo Opinativo é uma categoria que possui características particulares que o distingue do Jornalismo Informativo. Portanto, a utilização do Jornalismo Opinativo na mídia impressa é um fenômeno no qual podemos aprofundar nossos conhecimentos acerca da utilização dessa categoria jornalística.
Problema: Como sabemos, o Jornalismo Opinativo tem o papel de emitir opiniões sobre determinados assuntos. Muito utilizado na mídia impressa, seja por jornalistas ou por outros profissionais, esse tipo de Jornalismo influencia o leitor e, muitas vezes, molda sua opinião/postura acerca de um tema em questão. No entanto, sabemos também que muitos veículos de comunicação divulgam informações que são de interesse da empresa jornalística, geralmente devido a questões políticas.
Com isso, a prática do jornalismo opinativo nos jornais impressos – seja através dos editoriais, artigos, comentários ou charges – pode também ter ser conteúdo influenciado pelos interesses do dono daquele jornal. Temos, com isso, um sério problema: Se o Jornalismo Opinativo deve ser a prática de expressões livres de idéias, a influência do veículo exercida em torno dessa publicação acarreta, então, um desvio naquilo que realmente deveria ser o Jornalismo Opinativo. Além disso, não vemos os gêneros da categoria opinativa sendo utilizados com tanto rigor quanto o Jornalismo Informativo, fato este, sabemos, gerado devido a questões mercadológicas.
Percebemos então que esses critérios de interesses mercadológicos, que vem da nossa sociedade capitalista, têm prejudicado as publicações dos gêneros ligados ao Jornalismo Opinativo. Esses são, portanto, os fatores que identificamos como um problema quanto tratamos do assunto Jornalismo Opinativo.

Dúvidas sobre o Jornalismo Opinativo

Diante disso, elencamos 30 questões que representam algumas dúvidas que temos sobre a prática do Jornalismo Opinativo – dando destaque para questões que envolvem os dois principais jornais de Mato Grosso do Sul (Correio do Estado e o Estado MS) - e que têm como objetivo abrir o campo de idéias acerca das discussões que permeiam essa categoria jornalística:
  1. Por que o estudo do Jornalismo Opinativo é importante?
  2. De que maneira o Jornalismo Opinativo influencia o público?
  3. Existe diferença entre o Jornalismo Opinativo praticado nos dois principais jornais de Mato Grosso do Sul (Correio do Estado e O Estado MS)?
  4. Como esses dois jornais definem o que é divulgado através do Jornalismo Opinativo?
  5. Quem são as pessoas que geralmente escrevem os artigos para esses jornais?
  6. Por que os artigos e editoriais ficam sempre na segunda página desses dois jornais?
  7. Esses jornais já conseguiram provocar alguma repercussão através dos gêneros do Jornalismo Opinativo?
  8. Quais os ícones do jornalismo opinativo no jornal O Estado e Correio do Estado?
  9. Por que esses veículos replicam artigos nacionais ao invés de investir em textos de autores locais?
  10. Os jornais analisados (Correio do Estado e o Estado MS) caracterizam-se por expressar abertamente suas opiniões políticas. Esta é uma forma de fazer jornalismo opinativo?
  11. Qual a relevância do Jornalismo Opinativo para a sociedade Sul-Mato-Grossense?
  12. Qual é o público leitor do Jornalismo Opinativo?
  13. De que maneira a prática dessa categoria jornalística pode se inovar?
  14. Qualquer pessoa, mesmo que não seja jornalista, deve se beneficiar da prática do Jornalismo Opinativo?
  15. O Jornalismo Opinativo pode também ter a função de informar, mesmo não fazendo parte da categoria Jornalismo Informativo?
  16. As universidades têm ensinado os alunos a fazer Jornalismo Opinativo?
  17. Os livros sobre Jornalismo têm dado ênfase a essa categoria jornalística?
  18. De que maneira os antigos escritores contribuíram para a prática do Jornalismo Opinativo?
  19. Por que o poder de opinar do jornalista não é tão utilizado quanto o poder de informar?
  20. Qual a perspectiva de crescimento profissional do autor dos artigos opinados?
  21. Os leitores procuram os editoriais, as charges e os artigos assinados ou este tipo de publicação compõe as páginas dos jornais apenas para preencher a segunda página?
  22. O interesse do leitor é mais voltado à opinião do jornalista, ou à informação do conteúdo lido?
  23. Existe informação suficiente acerca do Jornalismo Opinativo para que ele seja exercido?
  24. Se o jornalismo propõe ser imparcial, como ele pode ser informativo e opinativo ao mesmo tempo?
  25. Qual a importância do espaço oferecido pelos jornais para o jornalismo opinativo?
  26.  Quanto a opinião do autor interfere na do leitor?
  27. Os jornais impressos dão espaço ao Jornalismo Opinativo para “vender” política?
  28. Qual é o interesse do leitor por um Jornalismo Opinativo?
  29. Como surgiu o Jornalismo Opinativo?
  30. Divertir, entreter e agradar são objetivos do jornalismo opinativo, ou ele também tem a finalidade de informar?

Questão Básica

Com todas essas questões, surge para nós uma grande dúvida, aquela que é a questão básica desse trabalho e em torno da qual abrimos o grande debate deste blog:
Observamos que a maioria dos jornais impressos divulgam informações de interesse do veículo, o que influencia também no conteúdo da linha opinativa do jornal. Quais adaptações o Jornalismo Opinativo deve sofrer para alcançar um padrão de qualidade, fugindo assim das influências que destoam a livre manifestação do pensamento?
O comentário sobre essa pergunta está no artigo que escrevemos abaixo:

Jornalismo Opinativo – realidade e futuro na mídia impressa
Querendo, ou não, a posição explícita do escritor sobre determinado assunto acaba por fomentar a discussão e reflexão do leitor, uma vez que a intenção daquele é retratar o seu ponto de vista. O Jornalismo Opinativo cumpre, então, um papel importante na moldura dos juízos críticos exercidos pela sociedade.
Hoje, sabemos, é com os moldes dos interesses partidários que o jornalismo impresso se mantém. Interesses esses que influenciam a prática do Jornalismo Opinativo, em especial quando se trata dos editoriais e artigos. Vemos, portanto, que a livre manifestação do pensamento está cercada de influências, que acabam por ser incorporadas nos textos ditos pertencentes ao Jornalismo Opinativo. Este deixa assim de cumprir o princípio a ele proposto, ou seja, o da livre manifestação do pensamento. O capitalismo, permeado de interesses políticos, surge assim como um vilão dos gêneros opinativos.
Isso é a nossa realidade. Sabemos, no entanto, que deveria ser diferente. Quando tratamos de opinião, tratamos de opinião no sentido estrito da palavra, que significa modo de ver, pensar, deliberar, juízo, idéias – algumas das definições do dicionário Aurélio. Mas esse modo de ver e pensar só será realmente explorado na mídia quando ela for totalmente livre. Liberdade essa que deve ser declarada pelo veículo, pelo dono do jornal e seus editores.
Vemos também claramente que os interesses capitalistas reduzem também a quantidade de artigos e comentários nas páginas dos jornais. Como se não bastasse, eles aparecem nas páginas pares – as da esquerda – as quais o leitor tende a olhar por último. Ou seja, já que isso não vende, não tenho interesse. O que temos são artigos escondidos e, portanto, menos comentados entre os leitores. Temos o empobrecimento do rico Jornalismo de Opinião. Essa riqueza precisa, portanto, ser explorada. Potenciais escritores é o que não falta. Por que então não buscá-los e abrir, com isso, as fronteiras das limitadas publicações de opinião? Só é preciso vontade, e juízo. Ao escritor cabe apenas produzir um conteúdo diferencial e crítico, exercendo a livre manifestação do pensamento de maneira qualificada.
A tendência, como isso, é a que tenhamos um Jornalismo Opinativo mais vigente nos nossos jornais, na nossa leitura diária. E isso tudo mesmo com o avanço que ainda vamos ver na leitura digital. Sabemos que houve um tempo em que se apostava que, com o advento da internet, os livros impressos deixariam de existir dando lugar aos e-books. Podemos ver, há mais de dez anos das errôneas previsões, que ainda ocorre a procura pelos exemplares em papel. As bibliotecas os recebem e o prazer de folhear não foi substituído pela era digital.
Podemos assim supor, que dentro de dez anos, os jornais impressos também não irão acabar, mas terão o mesmo caminho que os livros, e que o cybermundo acumulará mais adeptos, mais “jornalistas” praticando a informação opinada. Os blogs jornalísticos existirão em maior número e também não será o fim do jornal de papel, mas o início de uma seleção mais criteriosa por parte dos leitores. Teremos então a chance de fornecermos um Jornalismo Opinativo atrativo, rico de idéias, novo e transformador. Uma nova era na livre expressão do pensamento.

Links Úteis

Ao final deste trabalho, deixamos para você algumas sugestões de leitura caso queira aprofundar seus conhecimentos sobre o Jornalismo Opinativo:
Boa Leitura!